Sobre Tempo Real, Composição e Relação
Percepção do workshop de Composição em Tempo Real, de 19 a 21 de Junho de 2015, no Atelier Real, com fragmentos do discurso de João Fiadeiro, nesse contexto.
Criar um enunciado. Partilhar uma inquietação sem explicar.
Nunca se agarra... há que criar toda uma estratégia de circunscrição até que...
Nunca se agarra... há que criar toda uma estratégia de circunscrição até que...
Inquietação que
precisa ser domesticada... se fores direto, matas!
Criar condições
para que o afecto se manifeste e, uma vez conseguido, não podes olhar de frente
(depois é sempre um ir e voltar).
Fase de espera...
um estou aqui! Onde se está. O estar aqui, em movimento. Fluxo.
Quando se faz a
pergunta, já está a acontecer, depois, é saber gerir!
É o tempo da
mediação do impacto! A inquietação (um movimento de inclinação) o processo
de composição começa lentamente.
Ponto real é
a capacidade de aceitar este ponto, não saber o que vai acontecer e
questionar o que aconteceu. Volta-se ao mesmo lugar porque nunca se
saiu desse lugar ... o homem sem umbigo. Um tempo sem passado,
uma espécie de poder de repetição.
O tempo real é o
espaço antes do loop, sem o peso do passado ou perspetiva de futuro (na
vida está sempre a acontecer, em micro escala).
Gestão do tempo
real:
- saber alargá-lo —
parte do treino é alargar o tempo real, uma amplitude, um circulo de vida que
nos permite reparar, prestar atenção nesse novo acontecimento e o tempo é dado
pela amplitude. Prolongas ouvindo...com paciência.
- passar um certo
número de etapas — saber reflexo/ reação (medo/ o que já sabes) sobreviver à
tentação de reagir. Treinar a tentação de resolver/ ultrapassar o reflexo e o
saber interpretativo.
Composição: relação
da relação (o que é importante).
Sensível à
posição (sensível pelo desapego).
O ponto é o que
fica.
"Meiooooooooooooo"
(não tem princípio nem fim).
Posição é nada.
O critério de
seleção é o que permite maior sustentabilidade do sistema não é o que eu gosto,
mas depende da minha sensibilidade. Às vezes, somos cegos ao nosso
desconforto... é preciso criar possibilidades de relação.
1ª posição
— enquadramento — para onde eu olho.
ex:
"posição"
(-1) - ação
"com"
(0) - açúcar
... o objetivo é
chegar ao 1.
O "com"
inaugura o movimento e não há certo ou errado.
Na composição há
mais atento/ mais sensível.
Uma nova ação, sem
relação com a 1ª é uma mudança de plano.
O grande objetivo é
prolongar.
Só
posso conversar se estiver no mesmo plano (exemplo da folha de papel,
da dobra, de mudança de plano) quem decide é o acontecimento.
Quem lambe
o açúcar é quem sugere a mudança, mas é preciso aceitação para haver uma
mudança de plano.
Em composições
livres não há relação. Há muitas posições que é completamente diferente.
-1 é o que está em
potência.
" O que eu
sou não fui sozinho" tornei-me naquilo que o outro decidiu...
- O que estavas a
fazer?
- Eu estava a
fazer rasto.
As possibilidades
ficam latentes, vão afunilando.
Não podes fazer
duas posições em simultâneo.
Não é preciso um
jogador para haver mudança porque os objetos têm agência — acumulação,
deformação, instabilidade, etc.
Trabalho a solo:
deixar o tempo para a relação se posicionar.
Distancio-me com a
colaboração dos outros, no decorrer dos acontecimentos, suficientemente
perto para me envolver, suficientemente afastado para poder compor.
Sistema/ modo
operativo.
Duas formas de
chegar ao fim:
— acidente
(externo/ alteração)
— loop (saturação)
Não há composição
sem tempo real (...) não há tempo real sem composição.
Não vale a pena
seres um mestre em composição se não fores sensível ao momento.
Estar entre o
dentro e o fora o antes e o depois.
Uma coisa em mutação que nunca agarras, na verdade nunca percebes nada.
Saber que não vamos saber é muito importante!
Alargar o tempo real: reparar em mais detalhes.
Crucial a partilha do "quê" ... o "como" não importa.
As maneiras diferentes de descrever a mesma ação — preso, limite, circunscrição.
Adiar o fim não é a qualquer preço (...) se uma determinada atitude, enquanto gesto criativo ou artístico, embora precipite o fim crie uma intensidade que o justifique... (o sabor).
Sensibilidade às condições iniciais — teoria do caos.
O ideal... ativar o "com" e passar rapidamente à composição.
O "ponto" que confirma a linha. Preciso largar a imagem "hologramada" e ser sensível e aceitar o outro.
Repetição com diferença.
Ser sensível às mudanças. Treinar a possibilidade de ir ao limite das coisas. Deixar acontecer e saber aceitar o que acontece.
Vida — uma coisa acontece e tem de haver a capacidade de se relacionar.
Escala 1:1
Lidar com o acontecimento.
Há um tempo.
Há um espaço.
Há uma necessidade em participar.
com o quê...
Não podes explicar o que vais fazer nem o que fizeste. Tem de ser simples — crucial — claro e simples.
Conjunto de reformulações, o hábito desaparece.
É um trabalho que vive das restrições.
Restrição em função do sabor.
Restringir permite reconhecer qual o território.
Saber retroativo ("o que eu sou não fui sozinho").
Nem por antecipação, nem para sempre, é um saber provisório.
Desconfio do meu saber reflexo.
1 Relação das posições
2 Relação das relações
2 Relação das relações
Qualidade da presença (não manipular) respeitar os micro saberes.
O modo como
ofereces o teu corpo e se transforma em "coisa" (não é objeto, nem
sujeito).
A "coisa"
é aquilo em que não há distinção... não há hierarquia entre objeto e sujeito.
Sem impor, jogar o
jogo (no futuro) ajudando o jogo a confirmar-se. Clarificando o futuro
ou limpando o passado.
As coisas tem de
ser força e não peso.
O "Eu" não existe!
Eu em relação com aquilo (...)
Eu em relação com aquilo (...)
A relação é que
importa.
O trabalho é a
tradução do afeto.
O que importa é
reconhecer o afeto que me é singular e que mexe comigo, que me
move (quando isso acontece é incrível, acontece poucas vezes).
Depois de
identificado é o desdobramento... até à saturação.
Os momentos de
saída também são lugares de treino.
Como não há
passado nem futuro neste trabalho, se tu perdes o presente é o fim.
Sensibilização de
uma sensibilidade. Consciência.
Criar cumplicidade
para ir resolvendo.
A composição
depende de algo que está a meio, em modo gerúndio.
Investigação do
ponto de vista do utilizador.
Há uma diferença
entre impasse ou espera.
Todos os jogos são
possíveis, menos o da indecisão!
Como é que eu vou
saber se estás a jogar o jogo de falta de clareza ou se estás a ser pouco
claro?
Eu sei que estou a
jogar o jogo de "não conseguir"... mesmo o jogo de não conseguir tem
um tempo (...) não é para sempre que se pode "não conseguir"...
Clareza
do enunciado.
O trabalho é sobre as relações e não sobre as posições. É preciso desapegar. Prática do desligamento embora o trabalho seja a ligação.
A diferença é o
resultado da repetição — "repetição com diferença".
Percepção do resto
do rasto do traço.
Fazer nada,
durante um tempo. Tens de fazer nada para que a evaporação seja perceptível.
O sentido deste
trabalho não é desacelerar mas saber lidar com o tempo real do
mundo. Treino da intuição para saborear a velocidade. Por isso
importa distinguir teimosia de sintonia. Confiar na intuição e ser
sensível ao tempo real.
Estar fora e
projetar no interior. Estar dentro e projetar no exterior.
Treino da atenção.
Retirando o ruído
sobre a redução e seleção do foco, ser olhado pela coisa que se olha, tornar-me
coisa.
Temos sempre de ir
para a maratona, mesmo que se faça só os 100 metros.
Vamos para
aguentar. Se não aguentamos, mudamos de centro ou de plano!
As mudanças são uma
consequência de não aguentarmos! Mas o que importa é irmos para a
maratona.
Temos essa ilusão... de
que aguentamos...
Projetar o futuro ou viver no passado... é errado!
Projetar o futuro ou viver no passado... é errado!
O treino da dobra é que não é evidente, porque achamos que podemos dobrar e colar a nosso bel-prazer ... e não... quando rasga, rasgou e é preciso começar de onde ficou.
KSá ©2015