"Vivi neste corpo. Conheço-o. Tem vários andares. Julgo saber que o acesso se faz por uma larga boca central, um pouco como no centro de um polvo: um bico desce em escada e pega-nos suavemente. O risco não é propriamente o de ser comida. Podemos ser provadas, embaladas, beijadas, amadas, desventradas; e também retalhadas, enfaixadas, enfardadas, fixadas em tela, cosidas, bordadas, descosidas. Podemos ir em todas as direcções, subir ou descer as escadas, trepar os andaimes, fazer trapézio no tecto, perdurarmo-nos pelos pés, balouçar, brincar aos equilibristas ao longo de uma trave, dormir aconchegadas debaixo dos lençóis; podemos fazer tudo aquilo que quisermos desde que fiquemos no corpo."
Louise Bourgeois
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