— … digo «parlatório», pensando, entre outras coisas, no «Cárcere do Ser» (de Pessoa)… Vivemos numa prisão — e não há saída porque o cárcere coincide com o Universo inteiro. E, se assim é, para quê as vãs evasões?… No entanto, no interior da prisão, interior quase inacessível, há um lugar mais estranho do que qualquer exterior, e maior do que qualquer intimidade… Se nos quedarmos aí, talvez possa começar o diálogo — e a nossa libertação.
[O que escuta retira um livro muito manuseado da estante que ladeia a janela — o mesmo que durante anos acompanhara o que fala. Começa a folheá-lo.]
O parlatório é o ponto em que os seres aprisionados — as presas da vida que nós somos — se libertam… O homem não está (temporária ou acidentalmente) no parlatório: ele é o parlatório.
[Longa pausa.]
É o lugar do diálogo com o tempo. Do outro lado do parlatório pode até ninguém nos falar, mas haverá sempre alguém à escuta… Algures… A escuta, um certo modo de guardar silêncio, pode libertar o homem. Escutar é deixar que alguém entre em nós pelo vazio — é dar-se (vazio).
[Diálogo]
disponível em: https://www.sistemasolar.pt/pt/produto/351/pt/parlatorio/
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